Juros Negativos e Deflação

Priss Guerrero/ janeiro 29, 2016/ Conversa Fiada

ROCK ON leitores! Aqui é o Lucas, seu analista financeiro preferido.

Hoje sairam várias notícias sobre uma mudança surpreendente na política econômica Japonesa: os juros negativos.
Mas o que são juros negativos e como eles funcionam?


O juro de empréstimo (interest rate) é o custo do capital de investimento. Quando uma empresa, investidor ou grupos de investimento encontram uma oportunidade de fazer dinheiro, mas não tem capital na reserva para investir, eles emprestam do banco, ou diretamente do governo. Os juros é o custo deste empréstimo. Quanto maior o custo, mais difícil de um investimento dar retorno. Se uma empresa pegar um empréstimo com juros de 10% e aplicar em algum projeto, este projeto tem que gerar mais que 10% de lucro para que possa se pagar.

O contrário também é verdade. Quanto mais baixo o lucro, mais fácil de obter retorno e, por tanto, mais atrativo é o mercado. De forma geral, investidores e empresas buscam mercados onde a diferença entre juros e lucro potencial seja maximizada. Mais que isso, o juro negativo é um incentivo ao investimento. De forma prática, é um subsídio pago pelo governo para fomentar um mercado específico, sinalizando para os investidores: “se investirem no meu país, eu te garanto um pequeno percentual de retorno”.

Por exemplo, vamos supor que os preços das ações no mercado japonês estejam despencando, o que faz os investidores venderem as mesmas. Em contra partida, o governo dá -1% de juros. Isso garante pro investidor que, mesmo se o investimento cair 1%, o mesmo não perdeu dinheiro. Dessa forma, o projeto de uma empresa pode render até 1% de prejuízo sem que isso afete a mesma de maneira negativa.

A deflação é um fenômeno de países onde o crescimento populacional está em queda, ou já é negativo. De maneira prática, a deflação é o inverso da inflação; a primeira vista, parece ser maravilhoso que os preços dos produtos caiam, assim o poder aquisitivo de todos os consumidores sobe. Todavia, se a deflação for muito grande (os preços caírem muito), as empresas com investimento a médio e longo prazo não conseguem retorno, pois tiveram custos iniciais na época em que os preços eram mais altos. Custo alto e retorno baixo gera prejuízo, que por sua vez gera imediatismo e pânico no mercado. As empresas procuraram corte de custo fixo, como demição de funcionários, e liquidação de ativos – ambos gerando mais deflação. Essa bola de neve pode sair do controle rapidamente e destruir a economia de um país.

Uma forma de combater a deflação é o juro negativo. Quando o governo subdisia o empréstimo, ele está dando dinheiro para o mercado e, com isso, aumentando o poder aquisitivo dos consumidores – mesmo que de forma indireta. Os lojistas rapidamente percebem o aumento de vendas e de demanda, e sobem os preços. Logo, juro negativo gera inflação, diminuindo a deflação natural que ameaça o país.

O Japão não é o primeiro a implementar essa política econômica peculiar. Este artigo do World Bank fala dos países europeus que usam juros negativos. No caso da Europa, que tem outro contexto, Áustria, Dinamarca, Alemanha, Holanda e Suíça estão lutando, ou lutaram, contra deflação e contra uma tendência de mercado de resguardar altas reservas de capital para mitigar riscos ou por falta de opção de investimento. Todavia, vale ressaltar que existe um certo risco em aplicar essa política.

Existe uma relação instrínsica entre o valor de uma moeda e o juro, por causa do investidor extrangeiro. Quanto mais um mercado depende de investimento extrangeiro, mais forte é essa relação. Se o custo de investir em no Japão é muito alto, o investidor foje do país. Pra isso, ele vende a moeda local, o Yen. Quanto mais investidores vendem Yen, mais o valor dele cai. Quanto mais o Yen cai, mais cara a importação (especialmente de commodity, lembrando que o Japão importa muito alimento e matéria prima).

Se beneficiando da política de juro negativo, investidores extrangeiros se dão o luxo de assumir maiores riscos e podem voltar a investir no Japão. Isso fortaleceria o Yen novamente. Porém, isso pode não ser o caso. Os juros negativos ajudam principalmente investidores que estavam com falta de capital, o que não é o caso no momento. Empresas tem capital suficiente para investir, apenas escolheram não investir no Japão. Como o juros negativo causa inflação, se os investidores extrangeiro não retornarem, o Yen enfraquecerá novamente, já que seu poder de compra dimiuirá. O efeito desta política no valor do Yen é especulativo, e só o tempo dirá se ele irá fortalecer ou não.

Outra consequência é a mudança de fluxo de pagamentos. Muitos instrumentos financeiros (bonds, credit default swaps) tem seus pagamentos baseados no índice de juro. Se o juro passar a ser negativo, aqueles que estavam pagando em base neste índice vão passar a receber, e os que estavam recebendo vão ter que pagar. Também existem bonds baseados no índice de inflação. Se a deflação mudar de direção e se tornar inflação, a mesma inversão de fluxo de pagamento acontecerá com esses bonds, o que atrairia investidores Isso vai bagunçar as finanças do mercado por um tempo, espantando alguns investidores e atraindo outros.

Independente destas consequências, economistas e analistas de mercado gostam de dizer que o mercado é um “zero sum game”. Ou seja, a soma de todos os ganhos e perdas de todas as pessoas tem que dar zero. Dessa maneira, não existe bom ou ruim no mercado. Sempre que alguém perder, alguma outra pessoa ganhou. Logo, não devemos nos perguntar se essa política é boa ou ruim, devemos nos perguntar pra quem ela é boa e pra quem ela é ruim.

Espero ter ajudado e ROCK OFF!

 

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